Resistir, inspirar e contribuir para inclusão étnico-racial

Resistir, lutar e inspirar, esses são verbos diários na vida de Rosemeire. Recrutadora, mulher, preta e integrante do Color Brave, ela é uma referência a todos ao seu redor. As cicatrizes que carrega em sua história, a fizeram mais forte e determinada a seguir seu propósito. Hoje, ela contribui para inclusão étnico-racial da Accenture.

“Sou grata pelos meus 34 anos de idade, habitando esse corpo abençoado pela melanina. Porém, nem sempre me amei como uma mulher preta. Quando eu era criança queria outro cabelo e tom de pele. Buscava me ver da forma que via os outros. Queria me encontrar na sala de aula, televisão ou na protagonista do filme.

Os meus cachos sempre foram um paradoxo. Ao mesmo tempo que queria soltá-los, prendia-os forte e firmemente, todos os dias. Para que não se soltassem durante o dia, era meu ritual diário amarrá-los assim e, mais do que isso, era a minha forma de ser aceita ao aparecer mais com os demais.

O desafio da identificação

Antes dos 10 anos, iniciei no mundo da química para “domar” o volume do meu cabelo. Por volta dos 20, teve um episódio no salão em que a cabelereira foi atender ao telefone durante o procedimento e comecei a sentir meu couro cabeludo queimando. Foram dias horríveis de dor e tristeza ao ver meus cabelos caindo.

Com medo de continuar com a queda brutal de cabelo, comecei – de maneira ainda tímida – a me identificar – e me amar – como mulher preta. A possibilidade de perder os cachos me fez entender que eles não eram uma desvantagem, mas uma coroa. Hoje, só ficam presos por estilo e não para ser um crachá de pertencimento.

Uma trajetória de resistência

Aos 17 anos, escolhi cursar psicologia. Foi um grande marco na minha vida, mas para a família, motivo de chateação – não percebiam a relevância do tema. Quando iniciei a graduação, não tinha condições de custear esse sonho. O desafio – principalmente financeiro - que foi concluir o curso fez com que o meu certificado fosse um dos papéis que mais me dá força e confiança.

Com o estágio, passei a me envolver em um mundo predominantemente branco. Durante este período, evolui demais, mas não em “cargos”, se comparados com a velocidade de outros colegas – alguns inclusive treinei e compartilhei conhecimento.  

Durante a minha carreira, sempre houve dificuldade de recolocação entre um emprego e outro, já fiquei “abandonada” na recepção pela entrevistadora, já me sugeriram mudar de carreira e outras situações degradantes.

Os frutos no meio dos desafios

Aos poucos, evolui no mundo corporativo, progredi na carreira e desenvolvi atividades com amor e dedicação. O resultado destes esforços foram prêmios, avaliações positivas e me tornar referência na área. No entanto, não era prioridade no quesito promoção.  

Diante de tantos impeditivos, já pensei diversas vezes em desistir do mundo corporativo. A sensação de estar invadindo um ambiente que “não me pertence” me deixava exausta. Mas, quando parava para pensar, lembrava que meus ancestrais sofreram muito ou perderam suas vidas para que eu pudesse deixar de ser vista como objeto para ser vista como sujeito.

As advertências não diminuíram em nada o orgulho que tenho em ser uma mulher preta e carregar várias cicatrizes na minha história. Sei que sou capaz de muito e todas as quedas me fizeram mais forte para continuar sendo amor todos os dias.

Principalmente, tenho orgulho pela oportunidade de fazer parte do comitê Color Brave e de estar em uma empresa que se compromete com a luta étnico-racial. Enriquece o meu propósito contribuir para atração e desenvolvimento de talentos negros na Accenture. Sei que sou inspiração para que outros como eu possam visualizar são capazes e merecedores de conquistar lugares de destaque em grandes empresas e fazer a diferença no mundo corporativo.