Empresas não devem depender do apoio do governo
27 Agosto 2020
27 Agosto 2020
Um estudo da consultora Accenture, feito em maio de 2020 junto de 478 executivos de topo de empresas com receita anual superior a 500 milhões de dólares, veio revelar o otimismo dos líderes europeus em relação à recuperação e à competitividade da Europa após a pandemia.
Dois terços (66%) dos líderes empresariais em todo o mundo mostram-se otimistas e acreditam na rápida recuperação do mercado europeu face à crise económica causada pela pandemia. A expectativa generalizada é a de que a recuperação venha a ser mais veloz na economia alemã, nas nórdicas e na britânica – só depois a França, Espanha e Itália conseguirão recuperar.
Quanto à rapidez da recuperação da Europa, 37% dos inquiridos preveem que, nos próximos 12 meses, a recuperação seja lenta, mas constante, em U, e cerca de três em cada 10 entrevistados (29%) esperam que a recuperação seja bastante rápida e em V, ou seja, uma crise profunda seguida de uma rápida subida.
Quatro em cada 10 entrevistados (39%) acreditam que as empresas europeias serão mais competitivas em relação aos seus pares nos EUA do que eram antes da crise. Face às empresas chinesas, 43% inquiridos, que operam em 15 setores de atividade e estão localizados 15 países na Europa, América do Norte e na região Ásia-Pacífico, acreditam que as empresas europeias são mais competitivas.
Contudo, há um risco identificado pelo estudo Bold Moves in Tough Times: o risco de os executivos europeus serem excessivamente cautelosos em relação à forma como se preparam para a recuperação, em comparação com os seus pares na América do Norte e nos países da região Ásia-Pacífico.
Algumas das conclusões a este respeito mostram que os executivos europeus estão mais focados na inovação incremental e não tanto na inovação disruptiva: mais da metade (53%) dos entrevistados europeus assumiram uma diminuição dos investimentos em inovação, afirmando que não vão relançar nenhuma iniciativa nos próximos seis meses, em comparação com 33% dos entrevistados na América do Norte e 49% na região Ásia-Pacífico.
Na Europa, apenas uma em sete empresas (16%) apresenta investimentos em iniciativas que permitam uma maior agilidade para a recuperação, em comparação com uma em cada quatro (25%) na Ásia-Pacífico e uma em três (34 %) na América do Norte.
Por fim, indica o comunicado de imprensa da Accenture, os líderes na Europa têm menor probabilidade de colaborar com outras empresas para mitigar o impacto da crise e acelerar a recuperação do que a América do Norte e Ásia-Pacífico (48% dos europeus, em comparação com 53% na América do Norte e 55% na Ásia-Pacífico).
“A confiança é crítica no ambiente económico atual, que ainda se mostra volátil e incerto”, defende Jean-Marc Ollagnier, CEO da Accenture Europa. No entanto, continua o responsável, “esta meta dependerá das ações inovadoras que surgirem como reflexo desse otimismo.”
Na sua opinião, “o maior risco é de que os líderes empresariais europeus confiem demasiado no apoio do governo, permaneçam na defensiva, e não invistam na inovação que muda paradigmas – porque a concorrência global não vai esperar.”
O CEO aconselha os líderes empresariais da Europa a começar já hoje a reinventar-se para a sobrevivência num mundo pós-COVID-19. Para si, o momento deve ser para pensar e agir de forma diferente e assumir riscos equilibrados que permitam a criação de resiliência a longo prazo. “É urgente que se renovem modelos de crescimento capazes de se adaptarem ao que chamamos de ‘novo normal’.”
O relatório da Accenture destaca áreas críticas nas quais as empresas europeias precisam de se concentrar para diminuir ou mesmo anular a lacuna de competitividade com os seus pares norte-americanos e asiáticos.
Acelerar o ritmo de transformação digital: as empresas com recursos digitais mais avançados mostraram-se mais resilientes durante a pandemia. Estas soluções permitiram a adaptação das suas equipas para trabalho remoto, o ajuste das suas cadeias de fornecimento e adequação rápida e em grande escala a novas formas de compra. Os executivos europeus veem claramente a necessidade de aumentar a velocidade da transição digital, salientado por dois terços (63%) dos inquiridos que referiram que as suas empresas vão acelerar a transformação digital, incluindo o uso de plataformas na cloud.
Criar experiências para consumidores cada vez mais responsáveis: Os hábitos de compra durante o confinamento devido à COVID-19 levaram a que os consumidores fizessem compras mais conscientes e migrassem massivamente para os canais online – uma realidade que permanecerá no mundo pós-pandemia. Neste sentido, as empresas vão precisar de fornecer uma experiência completa – que traga os clientes no início, durante o estágio de inovação, e continue com os processos de vendas e serviços. Quase dois terços (62%) dos líderes empresariais europeus, num grupo de dirigentes de indústrias de bens de consumo identificam a oportunidade de se desenvolverem hábitos de compra cada vez mais orientados por critérios sociais e ambientais.
Aproveitar a tecnologia para reinventar o setor industrial: a COVID-19 desencadeou debates sobre a necessidade de as empresas trazerem as operações de volta aos seus mercados internos. No entanto, a relocalização pode não ser uma boa solução para o renascimento industrial europeu. Para criar resiliência operacional de longo prazo, reinventar os seus modelos de negócios e criar novos fluxos de receita, as empresas devem aproveitar tecnologias digitais avançadas, como modelagem preditiva, gémeos digitais e computação de ponta, entre outras. Com 42% dos entrevistados europeus a planearem acelerar o investimento em transformação digital, em comparação com apenas 32% e 30% na América do Norte e na Ásia, respetivamente, há uma oportunidade para as empresas europeias assumirem a liderança no setor industrial.
Líder | 27/08/2020 | Jean-Marc Ollagnier