Cota não é um favor e sim uma política de reparação social
November 17, 2022
November 17, 2022
Sou Claudia Garcia, mulher preta de 56 anos, filha de pai preto e mãe branca, primeira de 5 filhos, casada há 32 anos com um homem branco, mãe de 2 filhas. Sempre estudei em colégio público até o 3ºano do ensino médio.
Iniciei minha vida profissional trabalhando como auxiliar administrativo e consegui pagar o colégio técnico em processamento de dados. Fui convidada por um professor para fazer parte do seu time na área de TI numa empresa de publicidade.
Sou privilegiada por hoje ser gestora na Accenture, onde acabei de completar 24 anos de empresa. Me sinto na obrigação de combater o racismo dentro e fora da empresa, assim como ajudar no desenvolvimento e oportunidade para as pessoas negras. Não é apenas uma questão de número, de meta, mas sim de estar preparado e ter a oportunidades sem nenhum risco de preconceito.
Faço parte do COLOR BRAVE e tenho muito orgulho do trabalho que vem sendo feito com relação as questões racionais na empresa. Cada um de nós tem o DEVER, independentemente de ser ou não negro, com relação a reparação de mais de 400 anos desde o início do tráfico negreiro, onde o povo negro, além de ser mal tratado, foi privado de estudo, moradia, saúde e trabalho remunerado.
Quando jovem, era super contra COTAS RACIAS, pois achava que tinha condições (psicológica se intelectuais) de batalhar por uma vaga em universidades. Quanta ingenuidade! Não tinha condição alguma de concorrer por uma vaga em universidade pública. Meu pai (negro) mal conseguiu concluir o 4º ano do ensino primário. Entrei numa universidade particular e só Deus sabe como consegui concluir. Na minha turma erámos apenas 2 negros. COTA NÃO É FAVOR e sim uma política de reparação social e ela deverá existir enquanto houver desigualdade.
Hoje, não meço esforços para levar este tema para dentro e fora da empresa. Sou privilegiada e tenho obrigação de lutar por esta reparação.
Na minha vida pessoal, já passei por algumas situações que podemos chamar de RACISMO CORDIAL (velado, uma brincadeira sem maldade, mas que machuca). Como sou filha de pai preto e mãe branca, meus irmãos são mais claros do que eu. Quando saíamos apenas os filhos com a minha mãe, perguntavam se era adotada,
Depois, quando nasceu minha primeira filha, ainda no quarto da maternidade, a enfermeira ficou receosa de dar meu bebê para amamentar e ficava olhando desconfiada. Já na escola das minhas filhas, sempre perguntavam se eu era a mãe, porque elas eram brancas.
Na Accenture, nunca vivenciei situações deste tipo, exceto quando me perguntaram porque corto meu cabelo assim. Importante saber que este comentário também é um tipo de preconceito, mesmo que seja sutil e sem intenção.
Somos todos responsáveis e devemos questionar em qualquer lugar que formos, quantos negros numa posição relevante atuam nesta peça de teatro, neste filme, nesta novela, neste noticiário, neste hospital (médico), quantos advogados, juízes, engenheiros, mestres e doutores ocupam uma cadeira acadêmica.
Precisamos mudar isso imediatamente. Ter representatividade no governo, nas universidades na posição de professores e nos cargos executivos. Sabemos que ainda temos muito que evoluir nesta temática, mas se não arregaçarmos as mangas, agora, este tempo será ainda mais longo.
Busque oportunidades de emprego que correspondam às suas habilidades e interesses. Procuramos pessoas proativas, curiosas, criativas e que saibam trabalhar em equipe para encontrar soluções.
Fique informado com dicas que você poderá usar hoje mesmo sobre carreiras, perspectivas do pessoal interno e percepções de ponta setoriais - tudo vindo de quem trabalha aqui.
Receba alertas sobre vagas, as últimas notícias e dicas do pessoal interno adaptadas às suas preferências. Veja quais oportunidades empolgantes e gratificantes o aguardam.